domingo, 6 de dezembro de 2009

>>> discutindo as mudanças climáticas >>>

O EFEITO ESTUFA E O DEFEITO MÍDIA

por Rogério Alvarenga


Diariamente os meios de comunicação falam (gritam!) sobre os problemas ambientais contemporâneos, dentre eles o aquecimento global, o efeito estufa e as mudanças climáticas. Sinais de uma sociedade que caminha a passos largos para a sustentabilidade? Não exatamente. Sabe aquela máxima "fale bem ou fale mal, mas fale de mim"? Funciona com os problemas ambientais: falamos muito sobre eles, mas falamos mal falado. Não é diferente com as mudanças climáticas.

O primeiro ponto a questionar é o alarmismo. Todos nós sabemos, ou imaginamos, que o mundo está vivendo seus últimos dias, recheado de catástrofes e tragédias provocadas pelas mudanças do clima. Embora isso não seja exatamente uma informação falsa, trata-se de um alarmismo que transforma o meio ambiente em espetáculo e, assim, garante a venda de revistas e a audiência da televisão. Ah, e garante assunto para o professor, bate-papo para a família, e por aí vai. E, assim, todos nós mudamos de atitude, certo? Errado. Aí vem o segundo ponto: o lado técnico do assunto predomina no debate.


Fala-se muito nos gases que agravam o efeito estufa, no desmatamento, na queima de combustíveis fósseis e... o que é que nós temos a ver com isso, mesmo? A responsabilidade é "das indústrias", "da agricultura", "dos carros". Se você acredita nisso, ok, também deve acreditar que ninguém compra produtos das indústrias e da agricultura sem saber suas origens; e que os carros saem andando pelas ruas sem motoristas. NÓS estamos por trás desse sistema de produção e consumo que queima combustíveis fósseis, que polui o ar, que promove queimadas e desmatamento; nós habitamos as ilhas de calor das grandes cidades. A televisão fala isso? A escola fala isso?

Nem o filme "Uma verdade inconveniente" foge muito do aspecto técnico das mudanças climáticas. Algumas dezenas de minutos serão suficientes para entendermos bem a ação dos gases estufa no planeta; para entendermos, ainda, quais as consequências que sofreremos - o aquecimento, o aumento do nível do mar, as enchentes, os ciclones, a perda de biodiversidade. Mas é necessário assistir ao filme até o último minuto (ou melhor, segundos!) para entender como podemos mudar esse quadro. Ou seja: em dezenas de minutos, percebemos que nossa vida é uma tragédia; em um minuto, percebemos o que fazer para mudar. Quem ganha o jogo? A tragédia ou a mudança?

Não há como negar, entretanto, que iniciativas não-oficiais como filmes e campanhas diversas marcam ponto para o planeta. Obrigado, Al Gore. Obrigado, Greenpeace. Mas ainda falta muito, porque as iniciativas oficiais andam a passos de tartaruga, enquanto a degradação ambiental corre a saltos de guepardo e o alarmismo midiático voa com asas de águia. O "Protocolo de Quioto" veio para ser mais enérgico com os fundamentos da "Convenção-Quadro das Mudanças Climáticas". A energia não contagiou o governo dos Estados Unidos, que não assinou o protocolo, e o mesmo só entrou em vigor sete anos após o desejado. E as metas ficaram defasadas, pois o mundo produtivo há sete anos era diferente do mundo produtivo hoje.

E a China chegou! Qual o discurso, agora? Um alarme ampliado por bilhões de novos consumidores num planeta que mal suporta a pegada ecológica atual? Ou, finalmente, sairemos do vício alarmista e técnico para construir coletivamente valores sustentáveis?